11.4.11

inside the circus.

Já deu de notícias sobre o que aconteceu no RJ semana passada...mas eu não poderia deixar de escrever um post sobre isso.

Acho que o cunho informativo da tragédia acabou no momento em que foram dadas informações como ''quem'',''onde'',''quando'',''como''. O ''porque'' a gente deixa de lado um pouco porque o cara morreu e ninguém nunca vai adinhar o porquê do que ele fez. Claro que também faltava falar aonde ele arranjou as armas e tudo mais. Só que parece que as pessoas não vão sossegar até que venha alguém e diga ''ele fez isso porque...''
 E aí ficam entrevistando psicólogos,educadores,religiosos,delegados....sempre numa tentativa incansável de dar aquilo que o povo brasileiro quer: notícias sobre a desgraça alheia.
 Sem contar essa mídia brasileira escrota, que vai ficar explorando o sofrimento das famílias que foram vítimas do assassino de tudo quanto é jeito. Vai neguinho na Ana Maria Braga, no Fantástico...todo mundo quer dar entrevista e falar da sua dor como se ela fosse maior do que a dor das outras famílias.
Óbvio que perder um filho desse jeito deve ser horrível,mas explorar tal sofrimento é mais horrível ainda. Profissionalismo? A gente não vê por aqui,rs..

Programas sensacionalistas do tipo do Datena,Sônia Abrão, e cia limitada só falarão disso pelos próximos 3 meses. Isso se uma desgraçar ainda pior não acontecer nesse meio tempo,porque né,convenhamos,o público quer ver o circo pegar fogo! Novidade? Nenhuma.
Freud dizia que o ser-humano gosta de ver o sofrimento alheio porque de certo modo ele se sente aliviado por não ser ele a vítima. Mais ou menos isso.
E assim ficamos, famintos por mais e mais notícias sobre o caso,e vendo entrevistas com quem trabalhou com o assassino, quem estudou, quem trepou,e bla bla bla. Como se isso fosse trazer de volta as 12 crianças mortas por um psicopata fora de controle.
Então,calem a boca e deixem as famílias sofrerem em paz!
Mas como sempre, as pessoas não estão interessadas em saber realmente o que aconteceu. Elas só querem se alimentar de notícias idiotas sobre o caso, procurando saber cada detalhe como ''o horário em que ele entrou na escola'',etc.

Isso sem falar que, como o cara morreu, vão tentar justificar a ação dele devido às suas crenças, como ''ah,ele era muçulmano'', ou ''ah,ele era terrorista'', ou ''ahh,ele era tímido'', ou ''ah,ele era adotivo'', ou ''ah,ele passava o dia inteiro na internet'', ou ''ah,ele só jogava jogo violento''. Mas, nada disso justifica o que ele fez!!
Desde quando ficar na internet te torna um assassino? Desde quando ser muçulmano te transforma num terrorista?? Isso pra mim parece um esteriótipo barato, taxado por pessoas que não possuem uma visão geral das coisas, sem conhecimento algum sobre religiões e conflitos e internet.
Não adianta, nenhum ''passatempo'' dele pode servir de resposta pro massacre.

O pior é que as famílias das vítimas querem uma resposta. E está tudo bem em querer uma. Acontece que o cara morreu, e fim de papo. A resposta de vocês não virá. E não será o Zeca Camargo que irá entrevistá-lo pra conseguir uma justificativa. Pessoas morrem todos os dias,e nem por isso existe uma resposta pra tudo.
E não vai adiantar também criar toda uma discussão sobre ''estamos seguros na escola?", porque isso não vai mudar a personalidade de crianças de 13 anos, que são na sua maioria, pessoas retardadas que só sabem fazer merda e tirar sarro de todo mundo. Não estou também dizendo que elas mereciam morrer porque praticavam bullying, só acho que a discussão deve ser mais ampla.

Mas cá estamos,diante de um crime atroz,cometido por um tapado mental.A morte foi fácil. Ele deveria ter ficado vivo e ter ido pra prisão,pra apanhar todo dia e ser enrabado todas às noites por um negão(sem preconceito).

Até porque,ninguém mais se lembra direito do que aconteceu no Japão há 1 mês, ou de outros assassinatos
violentos que permanecem sem resposta...o povo está sempre querendo mais,querendo novidade.Culpa desse mundo moderno,onde o instante acontece e já morre. Está tudo rápido e superficial demais.

Só que a mídia não vai sossegar.Vão acontecer protestos e tudo mais. Até que um outro tsunami aconteça, ou uma guerra comece. Ficamos aqui,ávidos por desgraças, como um cardume à espera de comida.
Só gostaria que o jornalismo brasileiro fosse mais profissional e menos sensacionalista.
É pedir muito?

Coloco aqui o trecho de uma reportagem feita por uma historiadora falando sobre o assunto:

"Não adianta culpar o bullying, achando que ele é um problema de jovens, um problema das escolas. Não adiante grades e detectores de metal nas entradas ou a proibição da venda de armas. Como professora, sei que o que os alunos reproduzem em sala nada mais é do que ouviram da boca de seus pais ou na mídia. Não adianta pedir paz e tolerância no colégio enquanto a mídia e a sociedade fazem outra coisa. Na escola, o problema do bullying é tratado como algo independente da realidade política, econômica e social do país. Mas dá pra separar tudo isso? Dá pra colocar a questão só em “valores” dos adolescentes, da influência do malvado do computador ou dos videogames? Ou é suficiente chamar o ato de Wellington de uma “violência pós-moderna” sem explicação? Das muitas agressões cotidianas, a da escola do Realengo é apenas uma demonstração da potencialidade de nossos ódios. A única coisa que me pergunto é: teremos a coragem de fazer esse tipo de discussão?"

Nenhum comentário: