16.5.12

a aula

Eu faço uma matéria do Instituto de Artes chamada "Comunicação, cultura, arte e sociedade".  Apesar do nome lindo, nem é tãão legal assim. O professor é meio lerdo e a única coisa boa é que ele passa um filme toda semana. Já assisti "Quero ser grande", "O livro de cabeceira", "Kaspar Hauser", bla bla.
Bom, ontem ele não foi dar aula. Aí foi um aluno dele de mestrado que apareceu lá e disse que tinha um vídeo pra passar.O tal vídeo era uma breve história da propaganda no Brasil desde 1950 até os anos 2000. E já peço desculpas antecipadamente caso eu use palavras e conceitos errôneos. É que eu escrevo no calor da coisa e não sou muito conhecedora de certas áreas.
Breve detalhe: o vídeo havia sido feito por alunos de publicidade da ESPM. Google it se você não sabe o que é.

Ok, vídeo acabou. Confesso que durmi no começo porque né, sou atriz e não sou obrigada 1 2 3. Mas depois eu assisti e fiquei perplexa com certas afirmações feitas por grandes nomes da publicidade. Coisas do tipo "a propaganda tem um papel educador...". Tá.
Aí, quando o cara acendeu as luzes, um outro carinha da sala pediu a palavra e disse que tinha um recado pra dar. Todos fica "Q". E começou. Ele desceu o pau no vídeo, dizendo que tinha verdadeira repulsa pela publicidade, que ele achava um absurdo os valores errados que elas passam, a manipulação das coisas, e etc etc. Ele deu o exemplo daquela propaganda do Mercado Livre que passava há um tempo, aquela que tinha um noivo dentro da igreja, todo nervoso. De repente a porta da igreja abre e vem "andando" até ele uma lambreta amarela. Aí o cara disse "é, eu tenho certeza de que essa propaganda foi muito elogiada entre o meio publicitário, mas olha o valor que ela tá passando! Um cara trocando uma relação afetiva com um ser humano e se casando com uma máquina!". E eu lá, aplaudindo por dentro tudo aquilo que ele estava falando.

Daííí começou o fervo. Todos queriam falar, deu o maior debate. Eu fiquei quieta porque nunca sei o que dizer nessas horas. Eu sempre formulo meus pensamentos depois. Argh.
Eu não sei.

Cada vez menos a gente parece precisar do outro. A tecnologia permitiu que fôssemos mais autônomos, independentes. Vivemos alienados num mundo capitalista que, por definição, visa nada mais que o lucro. E não me venha com o argumento de que o socialismo não convém porque ele tira o individualismo das pessoas. As propagandas e a publicidade fazem isso todos os dias: somos tratados como uma massa que não sabe o que quer. Steve Jobs dizia que o consumidor não sabia o que queria, não é? ¬¬'.

Esse mesmo avanço que trouxe diversas possibilidades é o mesmo que nos anula como seres humanos pensantes. A contradição é a marca registrada desse processo. A mesma empresa que "ordena" que você consuma mais de seus produtos é a mesma que faz propagandas sobre o meio ambiente, biodiversidade, e bla bla.

Eu tenho um pouco de aversão. Nunca fui de seguir modas e tendências. Compro aquilo que fica bonito em mim. Confesso que meu fraco são os sapatos e os perfumes. É porque acho muuito mais fácil comprar sapato, já que é bem difícil que um deles deixe seu pé gordo ou acentue suas imperfeições.

Dá raiva essa aparente autossuficiência que nos vendem. Tudo dá pra ser feito pela internet. Isso facilita muita coisa, mas nos deixa cada vez mais trancafiados em casa.
Eu gostava de ir até às locadoras e perder um bom tempo escolhendo filmes.
E, apesar de ter o senso espacial de uma ameba, não compraria um GPS. Sei lá, eu prefiro ir parando e perguntando para as pessoas.
Odeio³³³³ viajar num carro com os vidros fechados e o ar-condicionado ligado. Sou a favor de vidros escancarados e cabelos bagunçados.
Tablets? Não, obrigada. Não troco meu caderninho de anotações e uma caneta por nada.
 Precisamos de pouca coisa para viver. E acho que nesse sentido, meus pais sempre foram bem conscientes. Não ficavam trocando de eletrodomésticos e outros só porque tinha quebrado ou porque lançaram um modelo mais recente e 2.0.
Meu pai ia lá e arrumava, dizia que não havia necessidade de ficar comprando outro só porque tem um modelo novo.

Entendi que não, eu não preciso de determinadas coisas para ser feliz.
Um celular com internet ia facilitar muito minha vida, mas não quero ter mais uma coisa pra roubar horas preciosas do meu dia.


As normalidades e necessidades humanas são criadas por empresas, governos e propagandas. E já passou da hora de nos revoltarmos e criarmos normalidades com mais valores, menos preconceitos e mais humanidade.
Máquinas não substituem relações humanas. A não ser que você deixe.


















Nenhum comentário: