3.5.12

le projeto

Eu sempre tive um bichinho social dentro de mim. Sempre tive uma motivação do tipo "preciso mudar alguma coisa nesse mundão de Deus". Deve ser por isso que fui escoteira por uns tempos. E não, eu não saia vendendo biscoitos na casa das pessoas.

Coisa vai,coisa vem, fiz 18 anos. Aí sim eu podia ser voluntária em algum lugar. Como eu já havia feito teatro por uns tempos, resolvi participar do Anjos da Alegria. O objetivo era agir a la Patch Adams. A gente se vestia de palhaço, fazia uma maquiagem fofa e nos dividíamos em trios ou duplas. Passávamos a tarde no hospital visitando as pessoas que estavam internadas, numa tentativa de aliviar a dor e fazê-las rir um pouco.
Aqueles que estavam tomando soro ou algum remédio na veia, brincávamos dizendo "aahh, você está aí numa boa, tomando água-de-coco tranquilo, tals". Era bem legal. Eu saía de lá transformada. Fiquei uns meses fazendo isso, até que meus planos mudaram e eu precisei abandonar esse projeto. Mas sinto saudades.
Ah é, a gente fazia mágica e bichinhos de balão. Eu amava fazer isso.

Entrei pra faculdade, voltei pro teatro, terminei o inglês.
Aí acabei o curso de inglês, acabei o curso de teatro e resolvi me voluntariar de novo esse ano.
No bairro do lado do meu, tem uma escola estadual. Não muito diferente daquelas que aqueles filmes de sessão da tarde mostram(escola de periferia, vai um professor tentar mudar a realidade dos alunos, ele é rejeitado, e no fim as coisas mudam e todo mundo pinta o muro da escola no fim do filme). Sim, eu quero fazer a diferença.

Como faço literatura, pensei com os meus botões "farei um projeto pra ensinar literatura!". E sim, prevejo que vou gostar dessa coisa de dar aula.
Nessa escola estadual, existe um projeto chamado Escola da Família. Funciona assim: a escola fica aberta aos finais de semana, e as pessoas se voluntariam para desenvolverem algum projeto. Todos da comunidade podem participar. E na escola que eu sou voluntária, tem gente dando aula de artesanato, culinária, manicure, etc.

Tudo começou quando eu escrevi o projeto "literatura no vestibular".
Acontece que se fosse numa escola particular, todos os alunos iriam participar. Mas numa escola estadual a realidade é diferente. A maioria se forma e vai trabalhar. Faculdade é um sonho muito distante. E eu quero mostrar que não, não é.

E lá ia eu todo o sábado de manhã pra ver se aparecia algum aluno. E nada.
Fiquei chateada. Você se dispõe a fazer alguma coisa e ninguém quer mudar a própria realidade.
É triste.

Conversei com a coordenadora do projeto e pensei "quer saber? eu sou a alma do projeto e vou pessoalmente  bater um papo com esses alunos". E foi o que eu fiz hoje de manhã.

Como eu tenho 5 anos de idade, eu tava mega nervosa. Fiz teatro e ainda suo e gaguejo quando falo perante as pessoas. Seminário na faculdade? Odeio fazer.

Cheguei lá, expliquei todo o rolê. Um cara me acompanhou até as salas dos segundos e terceiros colegiais.
Meu discurso era mais ou menos assim:

"Oi gente, bom dia.(niuba³³³³³³)
Meu nome é Camila, tenho 21 anos e faço Literatura na Unicamp. Eu também sou voluntária do projeto Escola da Família e queria convidar vocês pra virem todos os sábados, das 10h às 11h30. Meu projeto é sobre literatura e minha intenção é mostrar o lado divertido dessa matéria. O projeto está mais pra uma conversa descontraída, pra gente conversar sobre os livros de hoje, entender a estrutura de romances, contos, poesias. É mais uma conversa literária, e pra quem for prestar vestibular, eu posso dar um apoio sobre como ela aparece nas provas e tudo mais. Tem também a possibilidade da gente montar uma peça de teatro no fim do ano baseada em alguma obra que vocês gostam ou que a gente venha a ler. Gostaria muito que vocês aparecessem, e também se não gostarem, sintam-se livres pra não voltarem mais. Tchau gente e obrigada!"

Foi bem rápido, bem niuba.
Quando eu mencionei Unicamp, vi o olho de muita gente brilhar. No fundo, eu quero incentivar essa galera a ler mais. Sim, meu foco mudou. O projeto não vai ser especificamente 'literatura no vestibular'. Tudo o que eu quero é ler contos com o pessoal, discutir assuntos, personagens, autores importantes e ver o que eles acham que é Literatura. Quem sabe num tem algum futuro escritor lá no meio?

Eu fiquei bem nervosa na hora de falar. Mas saí de lá com a esperança que me faltava.
Porque esse ano eu quero fazer a diferença SIM.
E aconselho todo mundo a fazer também.

E notícia do dia: os Backstreet Boys lançarão um álbum novo e o Kevin vai retornar ao grupo(acabou o dinheiro,né Kevin??)


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