16.9.10

Estava escuro quando o fazendeiro saiu de sua casa e foi até o estábulo para procurar uma ferramenta qualquer.
Como não havia luz elétrica no lugar, ele havia trazido sua lanterna,daquelas bem grandes e que produzem um reflexo muito forte.
No mesmo estábulo, um pequeno vaga-lume saía a procura de uma fêmea.Era a época ideal, e o vaga-lume sabia que ele não tinha mais muito tempo,afinal,vaga-lumes não vivem muito,certo?
Ele piscava fracamente sua luz,na esperança de ter alguém de sua espécie para que assim ele não morresse sem antes ter tido a certeza de que sua vida não fora em vão.
''Se bem que a vida de um vaga-lume não é lá muito significativa''-observou o pequeno inseto ao sobrevoar por cima dos cavalos que já estavam dormindo.
O lugar parecia ideal: vários animaizinhos noturnos,desses que os adultos nem prestam atenção e vão logo pisando.Chegava a ser mágico! Vários deles,de todos os tamanhos,formatos,tomavam conta do estábulo,e por mais pequenos que fossem, eles pareciam gigantes,explorando todos os cantos do lugar,andando velozmente entre as ferramentas,entre o feno dos cavalos e as madeiras expostas do telhado.
Então,ele a viu.Linda,brilhava mais do que o sol.Movia-se rápida,explorando e fuçando em tudo!
''Que atrevida!'' - exclamou o vaga-lume. ''Mas eu gosto de vaga-lumes assim'' - ele se corrigiu em seguida.
A luz não titubeava,e seus movimentos eram alternados:ora rápido,concentrado em alguma coisa, e logo depois mudava de foco.
Sem pestanejar,o vaga-lume foi atrás dessa luz,tentando se exibir ao máximo.Fazia piruetas no ar, desfilava por entre os telhados.Tudo na esperança de que ela o notasse.Porém,ela parecia nem ligar.Quanto mais alto ele voava,mais baixa a luz de sua amada ficava.
''Ela não me quer,deve ter visto outro vaga-lume'' - iludiu-se o pobre bichinho.
Então,contrariou todo o seu jeito de ser e resolveu chegar até a luz e declarar-se para ela.
Tinha medo da rejeição,mas sua fascinação era tão grande e o que ele sentia era tão deliciosamente inexplicável, que ele assim o fez.
Ao tomar essa atitude,começou a voar para a luz,cada vez mais perto.
Porém,a cada espaço que ele avançava,a luz ia ficando mais fraca,chegando a falhar.
''Será que ela está doente?"
Não se importou.Precisava falar como se sentia.
Mas a luz começou a falhar com mais frequência.
''Droga,não acho minha ferramenta e ainda pego uma lanterna com as pilhas fracas'' - esbravejou o fazendeiro.
E assim,ele desligou sua lanterna e foi pra fora do estábulo pisando duro.
O vaga-lume,ao ver que a luz havia sumido,não sabia o que fazer.Sua dor foi tão grande que ele adoeceu no mesmo momento.Sua amada estava morta.Não iria mais se acasalar.Ele iria morrer sem deixar descendentes.
Mas isso eram fatos pequenos comparados ao estado do animalzinho.
Ele sofria de amor.
Um amor que logo que surgiu,se foi.
E naquela mesma noite o vaga-lume morreu,e se juntou às estrelas para iluminar o céu.

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